segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

PARA VIVER UM GRANDE AMOR



Para viver um grande amor, preciso é muita concentração e muito siso, muita seriedade e pouco riso — para viver um grande amor.

Para viver um grande amor, mister é ser um homem de uma só mulher; pois ser de muitas, poxa! é de colher... — não tem nenhum valor.

Para viver um grande amor, primeiro é preciso sagrar-se cavalheiro e ser de sua dama por inteiro — seja lá como for. Há que fazer do corpo uma morada onde clausure-se a mulher amada e postar-se de fora com uma espada — para viver um grande amor.

Para viver um grande amor, vos digo, é preciso atenção como o "velho amigo", que porque é só vos quer sempre consigo para iludir o grande amor. É preciso muitíssimo cuidado com quem quer que não esteja apaixonado, pois quem não está, está sempre preparado pra chatear o grande amor.

Para viver um amor, na realidade, há que compenetrar-se da verdade de que não existe amor sem fidelidade — para viver um grande amor. Pois quem trai seu amor por vanidade é um desconhecedor da liberdade, dessa imensa, indizível liberdade que traz um só amor.

Para viver um grande amor, il faut além de fiel, ser bem conhecedor de arte culinária e de judô — para viver um grande amor.

Para viver um grande amor perfeito, não basta ser apenas bom sujeito; é preciso também ter muito peito — peito de remador. É preciso olhar sempre a bem-amada como a sua primeira namorada e sua viúva também, amortalhada no seu finado amor.

É muito necessário ter em vista um crédito de rosas no florista — muito mais, muito mais que na modista! — para aprazer ao grande amor. Pois do que o grande amor quer saber mesmo, é de amor, é de amor, de amor a esmo; depois, um tutuzinho com torresmo conta ponto a favor...

Conta ponto saber fazer coisinhas: ovos mexidos, camarões, sopinhas, molhos, strogonoffs — comidinhas para depois do amor. E o que há de melhor que ir pra cozinha e preparar com amor uma galinha com uma rica e gostosa farofinha, para o seu grande amor?

Para viver um grande amor é muito, muito importante viver sempre junto e até ser, se possível, um só defunto — pra não morrer de dor. É preciso um cuidado permanente não só com o corpo mas também com a mente, pois qualquer "baixo" seu, a amada sente — e esfria um pouco o amor. Há que ser bem cortês sem cortesia; doce e conciliador sem covardia; saber ganhar dinheiro com poesia — para viver um grande amor.

É preciso saber tomar uísque (com o mau bebedor nunca se arrisque!) e ser impermeável ao diz-que-diz-que — que não quer nada com o amor.

Mas tudo isso não adianta nada, se nesta selva oscura e desvairada não se souber achar a bem-amada — para viver um grande amor.

Vinícius de Moraes

Ausentes

Ligando quadrantes em território neutro
Cada quadrante é uma cabeça pensante.
Pensamento que se perde no relevo
Frio que atravessa o osso e endurece o nervo.
Amenizamos com o crepitar da lareira
Amenizamos findando las treinta botellas
Abraçado as cobertas amantes do desejo
Adormeço, pereço, aqueço a ausência
Da proximidade do mar de pedra brita
Altitude que afeta a alma,
Plenitude do abismo que acalma.
Introspecção ao som de barulho algum
Do vento que abraça o Monte Negro,
Caricias na cara à chibata.
A beleza azul da gralha na araucária
Nina a menina morena do olho
Refletida no espelho do céu azul.
De poncho, bota, passo firme, titubeia o
Infinito do teu coração...
De poncho, bota passo firme do teu coração ao infinito!
O sol brinda com a cor daqueles
De alma serena que vagam
Coletivos no nada do paraíso.
A volta é de cada um, 
Pensamentos únicos,
Retrospectiva,
Mudança...
Ele não é mais ele...
Elas não são mais elas...
Minha casa desconheço, 
Pois não sou mais o mesmo 
Quando amanheço depois dessa 
Viagem.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Massa Crítica

A massa crítica mais uma vez irrita
Aqueles viris do monóxido de carbono.
Pedalar é preciso, acelerar não é!
Aliás, melhor ir a pé.
Minha vizinha vai à academia,
Põe seu tênis e roupa de ginástica,
Atravessa a cidade com seu carro.
Volta cansada
Diz que o transito a estressa.
Porra!
Usa a cabeça!
Pedale e emagreça
Enrijeça os músculos pedalando pelo mundo.
Massa crítica não é Exu,
Mas tranca a rua,
Abre as mentes
Alivia o coração.
O coração da cidade que
Esta a beira de um infarto.

Prin és um jardim

Aquela luz amarela, fraquinha
Dava cor a brisa que acariciava
Os cabelos longos, negros a minha frente.
A brisa ainda trazia as palavras doces,
Medidas, carregadas de ternura
Até meus ouvidos.
Todas as barreiras e defesas foram ficando de lado
Gole a gole, arrepio a arrepio...
Sorrimos, falamos, nos embriagamos.
Sonhos e vontades sussurradas...
Tapetes roxos e amarelos nos mostram o caminho a seguir
O caminho do bem, bailar, caminhar, cantar, viajar, ajudar,
Não é questão de perder ou vencer, é apenas entender.
A cor, a música, o cheiro de Gaia.
Espiral que manifesta a festa dos sentidos
Não me deixe agir errado novamente, pois
A simplicidade, leveza e pureza dela,
Deturpou meus sentidos,
Momento mágico que não sei se deve ser repetido.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Rumo

"A gente deve atravessar a vida como quem está gazeando a escola e não como quem vai para a escola." Quintana

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

CONFIRMA

Trabalhando o trabalho a ser dado
Cavando o buraco abaixo do poço
Profundo, profundidade, ambígua sociedade

Sociedade carnavalesca da eleição.
Sorrisos lindos para encher os bolsos
Com nosso tostão.

Currículos ali mostrados na calçada,
No poste, no “santinho”, na mão do pobre
Que recebe trocados, e logo após lhe é roubado.

Politicagem, politicalha, envergonha, avacalha.
De novo no Brasil?
Será que ninguém ainda não viu?

3, 4 ou 5 ladrões
Aperta alguns botões
E lá está a única máquina
Que realmente funciona, a urna.
CONFIRMA.

Eles são o sorriso
Imagens das empresas de marketing
Enquanto poucos roubam um voto
Todos ficam à margem.

À margem do pesadelo de escolher
Quem vai nos roubar dessa vez.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Antes que o tempo passe
Antes que o tempo parasse
Antes que o tempo andasse
Ao mesmo passo que quero

Não sei se quero
Não sei quanto quero
Não sei o que quero
Se não apenas ver o vôo
De um Quero-quero.

Mas não espero
Mas não te espero
Mas não te quero
Mais que a vida fluindo
Em minhas veias?

Veias abertas
Veias correndo soltas
Veias entupidas
Veria tudo mais ainda...

...se ainda tivesse
Meus quinze anos

Anos de festa
Anos de amores
Anos que estão na memória
Mas agora, vai tomar no ânus.

Vôo cego

Amarela voa com o vento
És acariciada por todo corpo
Mas o vôo dura pouco tempo
Agora sua vê um galho torto.
A visão da primavera é linda
Do topo, inerte, com as amigas
Desabrocha e o sol lhe da vida
Efêmero ser de pais antigos
Uma lufada de vento muda a paisagem
Agora tem irmãos agonizando
Outra lufada, agora reinicia a viagem
Nesse vôo acaba se aterrorizando
Da aterrissagem foi sua última imagem
Uma flor um pé acabou pisando.

Questões

Ouço o silencio ao ver planar a andorinha
Silêncio pesado, cativo, castigo
A cadeira vazia ao lado reflete minha companhia
O cinzeiro cheio de “tocos” tortos lembram meus amigos.
A hora que não passa
O vento que acaricia
O sorriso que não é mais como antigamente
Mente para si.
Se orgulha?
Do que?
De quando?
Dos feitos de ontem?
Ou será de hoje?
Acho que é do amanhã.
Os dias se tornam longos
E os anos encurtam.
Porque os dias cinzas nos fazem
Pensar na vida?